História do Arte de Portas Abertas

O Arte de Portas Abertas foi criado em 1996 por iniciativa da ONG Viva Santa, que acolheu e produziu uma ideia da escultora Clara Arthaud. Ao visitar sua filha em Cambridge justamente em um fim de semana de “Open Studio”, esta artista imediatamente pensou como seria bom um acontecimento como aquele em seu bairro, Santa Teresa, notadamente povoado por muitos artistas de vários gêneros. Mas antes de ser um movimento de artistas este foi, naquele momento, uma postura de moradores interessados em melhorar a autoestima do bairro tão desprezado pelos representantes do poder público e pelos moradores da cidade.

 

A partir de sua primeira edição, o Arte de Portas Abertas permitiu que milhares de cariocas tomassem o bonde pela primeira vez e viessem conhecer Santa Teresa. Com o olhar voltado para a apreciação de várias modalidades de artes visuais, o Rio de Janeiro redescobriu sua joia com toda sua vocação. Santa Teresa é uma cidade de interior dentro do centro geodésico da megalópole; um bairro histórico, com a arquitetura preservada e características que lhe conferem um grande potencial cultural.

 

O evento Arte de Portas Abertas nunca se pretendeu como um movimento artístico apenas. É parte de um conjunto de posturas cívicas, cidadãs, num esforço de valorizar nosso espaço e chamar a atenção para o que ele representa, ou seja, somos a cidade que parou no tempo, referência de como era o Rio de Janeiro até a década de 1930, antes da ferrenha especulação imobiliária que devastou a Cidade Maravilhosa, verticalizando-a massivamente. Comparada ao resto do Rio, Santa Teresa é um brinquedinho, uma tetéia, algo muito delicado.

 

A partir de 2009, com a reaproximação interessada da Prefeitura do Rio, através da Secretaria de Cultura, reconhecendo que este é o maior evento regular de artes visuais do Rio de Janeiro e que faz parte de seu calendário oficial, a Chave Mestra abriu o leque de possibilidades para os artistas com intercâmbios, exposições e veiculação da arte contemporânea nos sítios centenários.

Às ações dos artistas visuais somaram-se outras no decorrer do tempo, oferecendo diferentes modalidades de cultura aos habitantes daqui de cima.

 

Cinema, acesso à boa literatura, saraus, espaços culturais de diferentes matizes, dinamização dos museus, restabeleceram a vocação cultural do bairro.

 

Se o bairro readquiriu seu charme, se aqui os imóveis se valorizaram, se hoje há muitos empreendimentos hoteleiros e gastronômicos é porque alguns moradores confrontaram uma realidade, fazendo aquilo que seria a última coisa que se recomendaria: abrir suas portas para quem quisesse entrar.